O FENÔMENO DA (IA) E A REVOLUÇÃO VIRAL NAS REDES SOCIAIS Nos últimos anos, o mundo digital testemunhou uma transformação radical no modo como arte é criada, compartilhada e consumida. O que antes era dominado por artistas com pincéis, tintas e anos de formação agora convive com uma nova forma de expressão: a arte gerada por inteligência artificial, ou (IA). Este fenômeno, impulsionado por ferramentas como DALL·E, MidJourney, Stable Diffusion e outras plataformas baseadas em modelos de linguagem e visão computacional, explodiu nas redes sociais, gerando milhões de visualizações, debates acalorados e uma nova estética digital que domina feeds do Instagram, TikTok, Twitter e Reddit. O que começou como uma curiosidade tecnológica rapidamente se transformou em um movimento global, com usuários comuns gerando imagens impressionantes a partir de simples comandos de texto. Uma frase como “um gato samurai cavalgando um dragão sobre um vulcão ao pôr do sol, estilo anime” pode, em segundos, se tornar uma obra visualmente complexa, repleta de detalhes e atmosfera. Essa facilidade de criação democratizou o acesso à arte, mas também levantou questões profundas sobre autoria, originalidade, direitos autorais e o futuro do trabalho criativo. A viralização da (IA) nas redes sociais não é um acaso. Ela ocorre em um momento em que a cultura digital valoriza o conteúdo visual, o impacto imediato e a novidade constante. Imagens geradas por (IA) são, por natureza, surpreendentes. Elas misturam elementos familiares de maneiras inesperadas, desafiam a lógica visual convencional e muitas vezes criam cenários oníricos que parecem saídos de um sonho. Isso as torna altamente compartilháveis, especialmente em plataformas como o TikTok, onde vídeos curtos mostram o processo de geração em tempo real, com transições dramáticas de texto para imagem. Além disso, a natureza acessível dessas ferramentas atrai um público amplo. Não é necessário saber desenhar, pintar ou ter conhecimento em softwares complexos como Photoshop. Qualquer pessoa com um smartphone e acesso à internet pode experimentar. Isso gerou uma explosão de criatividade amadora, com usuários testando prompts (comandos de texto) cada vez mais elaborados, criando verdadeiras obras-primas digitais. Alguns desses conteúdos acumulam milhões de visualizações em poucas horas, transformando criadores casuais em influenciadores digitais da noite para o dia. Mas por trás dessa aparente utopia criativa, há uma tempestade de controvérsias. Artistas tradicionais, ilustradores, designers gráficos e fotógrafos veem com preocupação o avanço da (IA) na criação artística. Muitos argumentam que esses modelos foram treinados com milhões de imagens retiradas da internet — muitas vezes sem o consentimento dos autores originais. Ou seja, a (IA) aprendeu a “desenhar” ao absorver obras protegidas por direitos autorais, o que levanta questões éticas e legais profundas. Há casos emblemáticos, como o de artistas japoneses cujas obras foram usadas sem permissão para treinar modelos de (IA), resultando em imagens que imitam estilos muito específicos. Isso gerou protestos, petições e até processos judiciais. Em fóruns como o ArtStation, comunidades de artistas digitais se mobilizaram contra o uso não autorizado de suas criações, exigindo transparência e compensação. Alguns modelos de (IA) já começaram a implementar filtros para evitar a imitação direta de estilos de artistas vivos, mas o debate está longe de ser resolvido. Outro ponto de tensão é o impacto econômico. Com a facilidade de gerar arte por (IA), clientes — especialmente pequenas empresas e criadores de conteúdo — estão optando por soluções mais baratas e rápidas, em vez de contratar artistas humanos. Isso pode desvalorizar o trabalho criativo e colocar em risco carreiras inteiras. Enquanto alguns veem a (IA) como uma ferramenta de apoio, outros temem que ela se torne um substituto, reduzindo a necessidade de artistas reais em certos segmentos do mercado. Apesar disso, muitos artistas estão adotando a (IA) como uma aliada. Eles usam as ferramentas para gerar ideias, esboços iniciais ou fundos complexos, mantendo o controle criativo na etapa final. Nesse cenário, a (IA) atua como um “assistente inteligente”, acelerando processos e expandindo possibilidades. Alguns artistas até incorporam o erro da (IA) — como mãos distorcidas, rostos estranhos ou proporções surreais — como parte da estética da obra, criando um novo gênero artístico que celebra as falhas da máquina. Esse movimento tem gerado uma nova linguagem visual. Imagens com tons metálicos, texturas impossíveis, arquiteturas flutuantes e criaturas híbridas se tornaram comuns. O estilo “dreamlike” (sonhador) domina, com cores saturadas, iluminação dramática e composições que desafiam as leis da física. Essa estética, muitas vezes chamada de “(IA) aesthetic”, já influencia publicidade, capas de álbuns, concepção de personagens para jogos e até moda. Marcas como Balenciaga e Prada já experimentaram campanhas com elementos gerados por (IA), sinalizando que o fenômeno está entrando no mainstream. No TikTok, desafios envolvendo prompts criativos se tornaram virais. Usuários competem para ver quem cria a imagem mais bizarra, emocionante ou engraçada. Hashtags como #(IA), #MidJourney, #StableDiffusion e #DigitalArt acumulam bilhões de visualizações. Canais no YouTube explicam como escrever prompts eficazes, otimizando palavras-chave para obter resultados mais precisos. Uma nova profissão surge: o “prompt engineer” — alguém especializado em formular comandos que extraiam o máximo de qualidade e criatividade dos modelos de (IA). Essa popularização também traz riscos. A facilidade de criar imagens hiper-realistas levanta preocupações com desinformação. É possível gerar fotos de pessoas que nunca existiram, eventos que nunca aconteceram ou discursos que nunca foram proferidos. Isso pode ser usado para criar deepfakes, notícias falsas ou campanhas de manipulação. Já houve casos de políticos sendo retratados em situações comprometedoras, ou celebridades em cenas inapropriadas, tudo criado por (IA). A linha entre real e simulado está cada vez mais tênue. Governos e plataformas digitais começam a se movimentar. A União Europeia, por exemplo, incluiu regulamentações sobre (IA) no seu projeto de lei de inteligência artificial, exigindo transparência sobre a origem das imagens. Nos EUA, discussões no Congresso sobre direitos autorais e uso de dados treinados com obras protegidas estão em andamento. Empresas como Adobe estão desenvolvendo tecnologias de rastreamento de conteúdo gerado por (IA), como marcas d’água digitais que identificam a origem da imagem. Mas a tecnologia avança mais rápido que a legislação. Novos modelos surgem a cada mês, com capacidades cada vez maiores. Alguns já conseguem gerar vídeos curtos a partir de texto, animar personagens ou simular movimentos realistas. O próximo passo pode ser a criação de mundos virtuais inteiros, personalizados por usuários comuns, sem necessidade de programação ou modelagem 3D. Isso pode revolucionar áreas como entretenimento, educação e simulação. Na educação, professores estão usando (IA) para criar ilustrações didáticas, cenários históricos ou representações científicas complexas. Em vez de depender de imagens prontas, podem gerar exatamente o que precisam, adaptado ao nível de seus alunos. Em terapia, alguns psicólogos experimentam o uso de imagens geradas por (IA) para ajudar pacientes a visualizarem emoções, traumas ou metas futuras. A arte se torna uma ponte entre tecnologia e bem-estar. Por outro lado, há o risco de homogeneização. Como muitos modelos são treinados nos mesmos conjuntos de dados, há uma tendência a produzir estilos semelhantes. Imagens com iluminação “cinematográfica”, personagens com olhos grandes e brilhantes, fundos nebulosos e tons azulados e dourados se repetem com frequência. Isso pode levar a uma padronização da criatividade, onde a originalidade é limitada pelo que a (IA) considera “bom” com base em padrões estatísticos. Além disso, a dependência de prompts em inglês ainda limita a diversidade cultural. Embora os modelos estejam melhorando em compreensão de idiomas, muitos ainda produzem melhores resultados com comandos em inglês, favorecendo culturas ocidentais. Isso pode marginalizar estéticas, mitologias e tradições artísticas de outras partes do mundo. Movimentos para treinar modelos com dados locais — como arte africana, indígena ou asiática — estão surgindo, mas ainda são minoria. A comunidade da (IA) é, no entanto, extremamente dinâmica. Grupos no Discord, subreddits e fóruns especializados trocam dicas, críticas e colaborações. Artistas compartilham seus prompts, discutem ética, organizam exposições virtuais e até vendem suas obras em marketplaces de NFTs. A arte gerada por (IA) já faz parte de leilões, museus e coleções privadas. Em 2022, uma obra criada com MidJourney foi exibida na Bienal de Veneza, marcando um reconhecimento simbólico do novo meio. O valor das obras também é debatido. Algumas vendidas como NFTs alcançam valores altíssimos, enquanto outras são distribuídas gratuitamente. A questão da autoria se complica: quem é o criador — o usuário que escreveu o prompt, o desenvolvedor do modelo, ou a própria máquina? A lei ainda não responde a isso de forma clara. Em alguns países, obras geradas exclusivamente por (IA) não podem ser registradas como direitos autorais, pois não há “criador humano”. No entanto, quando um humano intervém — ajustando, editando, combinando ou curando a imagem — o status muda. Isso cria um espectro de autoria, onde a colaboração entre homem e máquina é central. Alguns artistas defendem que o prompt em si já é um ato criativo, comparável à escrita de uma partitura musical: a (IA) executa, mas a ideia é humana. Outros argumentam que, sem o modelo, nada existiria, e que o crédito deve ser compartilhado. Essa colaboração está gerando novas formas de expressão. Projetos coletivos, onde centenas de pessoas contribuem com prompts para criar uma única obra, já são realidade. Outros usam (IA) para recriar estilos de artistas falecidos, como Van Gogh ou Hokusai, gerando novas pinturas em seus estilos. Isso levanta questões sobre respeito à memória, mas também sobre preservação cultural. Poderíamos “ressuscitar” estilos perdidos, ou até criar fusões entre épocas e culturas? A velocidade de evolução é impressionante. Em 2021, as imagens geradas por (IA) ainda tinham defeitos evidentes: mãos com dedos extras, rostos distorcidos, proporções estranhas. Hoje, em 2024, muitas são indistinguíveis de fotos reais ou ilustrações profissionais. A melhoria contínua dos algoritmos, aliada ao aumento da capacidade de processamento, faz com que cada nova versão dos modelos supere a anterior em qualidade e coerência. Isso também muda a forma como consumimos arte. Antes, admirávamos uma pintura por horas, analisando pinceladas, cores, composição. Hoje, rolamos feeds rapidamente, absorvendo centenas de imagens por minuto. A (IA) se adapta a esse ritmo: é feito para impactar imediatamente, com cores fortes, temas exóticos e composições dramáticas. A profundidade pode ser sacrificada em nome do viral. Mas nem tudo é superficial. Alguns artistas usam a (IA) para explorar temas profundos: identidade, existência, futuro da humanidade, relações entre homem e máquina. Obras que retratam cidades submersas, sociedades pós-humanas ou memórias artificiais provocam reflexão. A (IA), nesse caso, não é apenas uma ferramenta, mas um espelho das ansiedades e esperanças do nosso tempo. A viralização dessas obras nas redes sociais muitas vezes depende de um fator imprevisível: o algoritmo. Uma imagem pode passar despercebida por dias e, de repente, explodir em popularidade por causa de um compartilhamento de um influenciador ou por entrar no gosto momentâneo da plataforma. Isso cria uma cultura de tentativa e erro, onde criadores testam variações de prompts, horários de postagem e formatos para maximizar o alcance. O TikTok, em particular, se tornou o laboratório perfeito para a (IA). Vídeos que mostram a transformação de um prompt em uma imagem final, com música dramática e efeitos de transição, são altamente engajantes. Tutores ensinam como criar “cyberpunk cats”, “fantasy queens” ou “futuristic cities”, atraindo milhões de espectadores. Canais com nomes como “(IA) Dreams”, “Neural Canvas” e “Digital Alchemy” acumulam seguidores rapidamente, transformando entusiastas em líderes de comunidade. Essa popularidade também atrai empresas. Startups surgem oferecendo serviços de arte personalizada por (IA), desde capas de livros até logotipos. Agências de marketing usam a tecnologia para criar campanhas rápidas e baratas. Jogos independentes incorporam arte gerada por (IA) para acelerar o desenvolvimento. O potencial comercial é enorme, mas ainda instável, com questões de qualidade, consistência e legalidade pairando sobre o mercado. No cenário global, países como os EUA, China e Coreia do Sul lideram o desenvolvimento de modelos de (IA) para arte. Empresas como OpenAI, Stability AI, Alibaba e Naver investem pesadamente em pesquisa e infraestrutura. Enquanto isso, comunidades no Brasil, Índia, Nigéria e outros países emergentes adaptam essas ferramentas para suas realidades locais, criando uma diversidade de vozes que enriquece o ecossistema. Festivais de arte digital agora incluem categorias exclusivas para (IA). Concursos premiam os melhores prompts, as obras mais criativas ou as aplicações mais inovadoras. Júris mistos, com artistas humanos e especialistas em tecnologia, avaliam os trabalhos. Essa integração formaliza o reconhecimento da (IA) como um meio legítimo de expressão, mesmo que ainda controverso. O futuro da (IA) é incerto, mas inevitável. A tecnologia não vai desaparecer. Pelo contrário, vai se tornar mais acessível, mais poderosa e mais integrada ao nosso cotidiano. A questão não é se vamos continuar a usá-la, mas como. Será uma ferramenta de empoderamento ou de exploração? Um meio de ampliar a criatividade ou de substituir o humano? As respostas dependem das escolhas que fizermos agora — como sociedade, como criadores, como consumidores. Enquanto isso, o fenômeno segue em alta. Novas imagens surgem a cada segundo. Algoritmos aprendem. Pessoas se encantam, se revoltam, se inspiram. A (IA) não é apenas um modismo. É um reflexo de uma era em que a fronteira entre real e virtual, entre humano e máquina, entre arte e código, está se dissolvendo. E, como toda revolução, ela traz tanto promessas quanto perigos. A cada prompt digitado, uma nova possibilidade é desbloqueada. A cada imagem gerada, um novo caminho é traçado. O que antes exigia anos de estudo e prática agora pode surgir em segundos. Isso democratiza, mas também desafia. A arte sempre foi um espelho da condição humana. Agora, ela também reflete nossas relações com a tecnologia, com o tempo, com o próprio conceito de criação. E enquanto milhões de usuários ao redor do mundo digitam comandos, esperam resultados e compartilham suas criações, uma pergunta permanece no ar: quem realmente está criando? O humano com a ideia? A máquina com o algoritmo? Ou algo novo, uma colaboração que ainda não tem nome? Independentemente da resposta, uma coisa é certa: a (IA) veio para ficar. Ela já mudou a forma como vemos, imaginamos e compartilhamos. E, como toda forma de arte que ousou romper com o passado, ela continuará a provocar, inspirar e transformar..
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